terça-feira, 15 de junho de 2010

Uma estreia para abrir os olhos

Na minha gaiatice de sempre, quase era deportado para o Brasil antes mesmo de estrear como comentarista esportivo internacional bancado por um pool de empresas valorosas que lutam por uma imprensa honesta e com ligeiros teores de alcoolemia. Pois estava me aquecendo com algumas lagers (a saborosa cervejinha africana) para encarar meu debut em graus negativos no Ellis Park, quando tive a ideia de levar um protesto para as arquibancadas. Consegui abrir uma gentil flâmula em homenagem a um famoso narrador em um local privilegiado do estádio. Parece que fui bem sucedido no protesto, conforme acompanhei na repercussão da imprensa brasileira: "Faixa Cala Boca Galvão é retirada".


Mais uma vez, o problema é que os jornalistas não conseguem fazer o trabalho direito e não contaram a história completa. Como eu dizia, estava lá na minha gaiatice, quando senti dois cachações pelas costas, uma rasteira seguida de gravata e em poucos segundos estava desacordado. Só recobrei os sentidos ao receber um balde de água na cara (primeiro só a água e depois o balde inteiro) e ver que estava em um porão mal iluminado, cercado por quatro brutamontes com as caras geneticamente amassadas em formato de kombi. Eles tentavam falar em uma língua estranha, mas é certo que batiam antes e grunhiam depois.
Com um pouco de tempo, descobriram que não haveria diálogo (eu não entendia o idioma e só sentia um zumbido no pé do ouvido) e chamaram um tradutor. O jovem japinha explicou que eu estava sendo detido em nome de Vossa Excelência O Presidente Eterno da República Popular da Coréia do Norte, Kim Il Sung, hoje representado pelo magnânimo filho Kim Jong-Il, por fazer críticas severas e injustificadas contra o regime vigente.
Indignado, eu expliquei que não tava nem sabendo quem envernizou a barata, mas só queria tirar sarro com um locutor mala sem alça brasileiro. Cheguei até a ensaiar que entraria com um processo na Corte Internacional, na ONU e nos escambau a quatro, mas quando vi o pau de arara que os leões de chácara estavam aprontando, vi que diplomacia não funciona nem um pouco quando os testículos são esmagados e triturados igual a shimeji e broto de feijão.
Finalmente libertado, percebi que já estava no segundo tempo da partida, mas meus colegas de copo, ops, de pauta, avisaram que eu não tinha perdido muita coisa. Para mim, como ex-beque parado do CFC (Caipirinha Futebol e Cachaça), de Nova Brasília, o menino Robinho foi o melhor da partida. Ele mostrou que é um jogador eclético, com diversos recursos para encarar os fortes (eu que o diga!) norte-coreanos. Deu umas pedaladas, correu, pedalou um pouco, tocou a bola, passou os pezinhos por cima da bola alternando sentido horário e anti-horário, deu passe para o segundo gol e pedalou mais uma vez. Enfim, um gênio, que nem precisava que a Samsumg me agraciasse com um celular seminovo para que eu começasse a falar tão bem do nosso pelezinho com cara de australophitecus.
Na entrevista coletiva, fiz perguntas de duplo sentido ao nosso camisa 11:
- Sobre o próximo jogo, o que você acha da Costa do Marvin?
- Coroa, agora é pra valer, eu fiz o meu melhor e seu destino eu sei de cor...
- E aí, garoto, você já traçou os japas em campo, o que vai comer hoje de noite?
- Coroa, cansei de sushi, acho que vou traçar a carne escura de umas quimbundas que ficam rondando lá na concentração.
No que eu parabenizei a escolha do cardápio dele, dando aquele famoso "pedala robinho" no cucuruto. Afinal, não poderia sair apanhado do estádio sem descontar no primeiro mané em minha frente.


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